quarta-feira, 3 de julho de 2013

EXCLUSIVO: A Primeira-Dama deve forçar a barra para se "enturmar" entre os poderosos


"Alicerce não desmorona..."

por Sylvio Carlos Galvão

No mínimo, com baixa probabilidade, as chances que a primeira-dama tem de ‘enturmar-se’ no rol decisor devem ser bem aproveitadas. Não as havendo, a primeira-dama poderá criá-las na proporção que desejar seguindo os seguintes conselhos:

Exija:

1)    A subordinação direta da secretária do prefeito, mas nunca seja uma. Assim, mantenha-se atualizada da agenda do chefe do executivo;

2)    Afaste-se ‘quilometricamente’ do chefe de gabinete com o intuito seguro de provocar neste personagem um respeito epifânico. Talvez isso provoque um clima de inimizade, sim, mas, apenas talvez. Não importa se isso ocorrer. O que não pode ocorrer são hostilidades. Trate-o sempre cordialmente e com respeito (aliás, ele é um chefe), e só se intimize com ele na presença do marido – isso como regra. Se é necessário mais motivos para esta sugestão, saberemos ocupar o pouco espaço que temos neste livro: o chefe de gabinete é o homem forte do governo e a primeira-dama deve ser a mulher forte;

3)    Preste contas do Fundo Social de Solidariedade (FSS) sempre em reunião de cúpula, antes da publicação oficial e rejeite qualquer proposta de alteração no projetos do FSS nesta reunião, exceto os corretivos redacionais. Aceite, é claro, sugestões para a gestão do fundo, mas, antes ou depois da reunião, nunca em seu curso. Seguem um motivo e uma desculpa. O motivo: a busca pela depreciação da capacidade gestora de uma mulher de comando é o primeiro passo para sua desmistificação. Em outras palavras, a mulher deve sustentar um charme místico que seu poder emana. É um tipo de charme que incomoda os homens e, ciente disso, a mulher deve trancafiar seu lado místico – se necessário – através da intransigência, quando rodeado de poderosos e sanguessugas. Uma desculpa, se preciso for reagir com essa tal aspereza: se há algum desencontro em seus projetos do FSS, que tal aguardar uma manifestação da câmara de vereadores a respeito? (Eles, os vereadores, quase nunca se preocupam com isso!);

4)    Aproxime-se das esposas dos secretários municipais ou equivalentes e tente doutriná-las em favor de suas causas pessoais. O ingrediente de serem todas mulheres facilitará substancialmente esta ação. Agora, é importante: este conselho não vale para a esposa do chefe de gabinete (aquele, do conselho anterior!). Geralmente, ela será sua rival nas urnas um dia. O que poderia acontecer com o estreitamento amigável você já pode prever, não é?!;

5)    Promova jantares e reuniões informais sempre convidando políticos diminutos. Esqueça os líderes. Ninguém lidera sem liderados. Os caciques devem comparecer em reuniões solenes e você não deixará de ser convidada simultaneamente, pois é a esposa do cacique maior. Justifique-se sempre pela simplicidade da recepção e ponto. Os caciques ficarão agradecidos por você considerá-los dignos de glamour. Quanto à curiosidade sobre o que deve ter sido tratado naquele encontro, deixe que as “bocas pequenas” correrão com as notícias, invariavelmente distorcidas;

6)    Visite todas as pessoas que resolveram abandonar a política, e procure saber seus motivos. Porém, nunca lhes aconselhe a volta. Fatalmente voltarão (ou patrocinarão alguém);

7)    Nas reuniões, em que ambos estiverem presentes, sempre contrarie – com sutileza – os secretários ligados às finanças; apóie sempre os conselheiros municipais e seja a madrinha da Defesa Civil (aqueles responsáveis pelos resultados de catástrofes em todos os sentidos). Se não existir o setor, ou conselho, apresse-se em exigir sua criação. Só este ato será capaz de criar condições de prever catástrofes materiais à população e patrimoniais ao município;

8)    Sugira um departamento jurídico misto de advogados e advogadas. Não sendo possível, contrate uma para o Fundo Social de Solidariedade (ainda que seja recém formada);


9)    Depois de qualquer reunião, não importa a hora (mas respeite o local, é claro!), dissimule, seduza o prefeito, proponha-lhe um relaxamento e utilize técnicas de relaxamento e antiestresse, com o infalível pompoar no penúltimo ato (o último seria aquele em que você deita o parceiro em seus braços para fazer um cafuné). Se ele tiver saído vitorioso daquela reunião, saberá que há alguém mais forte que ele à sua volta; se saiu derrotado, saberá que alicerce não desmorona. 


Do Livro: "A Primeira-Dama e sua Intimidade com o Poder " (no prelo)

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