por Sylvio Carlos Galvão
Não é possível transformar uma dama do
lar em uma dama de todos os lares sem algum tipo de punidade ou de agraçamento.
Toda mudança expõe pontos fortes e fracos, oportunidades e ameaças exatamente
como pregam os entendidos de marketing. A vida é sim multidisciplinar a partir
de dentro de nós e nossos lares e por isso que a aprendizagem contínua, tanto
formal quanto informal, é um dever e não direito de quem quer ter vida longa
com qualidade de vida. Além de tudo isso, nunca se pode deixar passar uma
verdade incontornável que é a presença de riscos em todos nossos momentos.
Devemos saber nos proteger deles e se possível for sendo melhor ainda,
transformá-los em vantagens.
Levando o que foi dito a sério, constata-se que
a transmutação da mulher-esposa para mulher-eleita apresenta-se conturbada sem
necessariamente ser um Caos instalado. Mesmo porque depois da mudança digerida,
a Primeira-Dama sendo as duas mulheres simultaneamente, servida de sua
inteligência natural ou aprimorada através dos estudos, do seu capital feminino
e do seu capital erótico, e, por fim, do seu comprometimento com a
institucionalidade de sua nova função pública.
Deve-se observar, aqui, que seus próximos passos sejam coerentes com
a vida que tem. As mudanças que ocorrerão – pois nada neste mundo é estático -,
desta forma ocorrerão com coerência, sutileza e foco.
Por exemplo, identificados comportamentos
incômodos no marido, não é um bom negócio tentar mudá-lo em nenhum caso. O
fruto do convívio, agora com a Primeira-Dama ciente de que mudanças não são
promovidas a partir do passado, mas do presente, essa nova visão passará a ser
seu valioso norte. No entanto, quando necessário chama-lo à Terra de volta na
condição de pai e/ou marido, faça-o na intimidade do lar, sem se esquecer que
na vida pública todos os telhados são de vidro, inclusive o seu.
Já, a condição de marido-político deve ser
admitida como uma zona ambígua e
tratada como tal, com cuidados extras. Nesse caso, o chamamento para esta
condição tem formas diferentes num espectro cruel. Elas vem do self do político à esperança do povo; do
controle do Estado à miopia da oposição dissimulada.
Contudo, entendo que a PD deva ser sempre cúmplice do seu marido, nunca sócia dele, sobretudo nos seus
desempenhos exercitantes do Poder.
Com cumplicidade e sociedade podem palavras
usadas em contextos bem diversos e bem distintos, cabe aqui uma
contextualização própria em meus propósitos de orientar as PDs.
A cumplicidade, quando vista do perfil
romântico que muitas vezes lhe atribuem, é benéfica até certo ponto. Ou seja,
cúmplices de quem amamos nas variadas formas de amar, nunca desprezamos nossos
princípios, valores, moral, etc. Supõe-se que, se nos assumimos cúmplices de
alguém nesse sentido, é que a pessoa aliada a nós tem sintonia com nosso modo
de ver as coisas. Veja bem: sintonia não se confunde com absoluta e irrestrita
“concordância” com o que pensamos ou fazemos.
Pois bem, a cumplicidade nesse matiz
pressupõe que eventuais desencontros idealistas encaminham o par para o “bom
diálogo”, sempre. Todavia, por não haver a tal concordância absoluta e
irrestrita inerente ao livre-pensamento e escala de valores de cada um, essa
cumplicidade pode ser deteriorada pela “ausência” do diálogo, o que é pior do
que uma guerra de nervos entre sexos.
Não existindo o diálogo entre os cúmplices,
estão abertas as portas para a mudança de valores numa velocidade e num
potencial abruptos, sem que um ou outro perceba. Ocorrida essa mudança de
valores, e que tais levem a desastrosos procedimentos de uma das partes, não há
que se falar que a cumplicidade não deva ser quebrada. O limite da cumplicidade
são nossos próprios princípios, aviltados.
Contudo, convém mencionar que briga de casal
não deve influir na cumplicidade mútua, porque mesmo sendo “briga”, o canal do
diálogo “ainda” está aberto e passível de reparações. Mas, a ausência
dele...preocupa mesmo!
Já, no caso anotado aqui como “sociedade”, o
contexto é único. Sendo um tipo de parceria – tanto quanto a cumplicidade, é
fato – a PD ser sócia do seu marido no exercício do poder evoca uma condição
emprestada do ofício contábil que é uma certa divisão de “lucros”.
Mas atenção, Primeira-Dama, o capital
político é indivisível. Não se iluda com lucros superficiais. E quando tal
lucro for da ordem das finanças angariadas em suspeitas operações políticas,
siga em frente se quiser, mas não se esqueça de que sua consciência vai
acompanhá-la por toda a vida. Tal qual a Polícia Federal.
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