sábado, 8 de junho de 2013

Primeira-Dama da China é ignorada nos EUA



por


JACKIE CALMES

JANE PERLEZ
DO "NEW YORK TIMES", EM WASHINGTON


Tradução de CLARA ALLAIN


Seja o que for que os presidentes dos EUA, Barack Obama, e da China, Xi Jinping, fizerem neste fim de semana para tornar seu ansiosamente aguardado encontro na Califórnia tão informal ou até íntimo quanto as duas partes alegam querer, uma coisa não estará incluída: um encontro de casais.

Xi vai chegar na sexta-feira à célebre mansão Annenberg, nas proximidades de Palm Springs, com sua mulher, Peng Liyuan (foto), cantora glamurosa e general militar que em poucos meses como primeira-dama da China já conferiu a esse papel destaque e popularidade que eram desconhecidos na era comunista.

Mas Obama estará "solteiro": o gabinete de Michelle Obama confirmou na terça-feira que ela pretende permanecer em Washington com as filhas deles, para encerrar o ano escolar esta semana.

Para um encontro presidencial que visa não tanto fechar acordos substantivos quanto construir o relacionamento entre Obama e Xi, a ausência de Michelle Obama vai excluir algumas doses adicionais possíveis de diplomacia pessoal.

E, de acordo com sinólogos nos dois países, com certeza vai desagradar ao público chinês, preocupado com status e ansioso por ver sua primeira-dama ao lado da inovadora primeira-dama americana no palco mundial.

Os chineses "vão se decepcionar", comentou Cheng Li, especialista sênior em política chinesa no Brookings Institution, organização de pesquisas com sede em Washington. "Eles têm altas expectativas para este encontro."

Li previu que o encontro entre Obama e Xi terá mais cobertura na China que nos Estados Unidos, e, como os chineses são "extremamente sensíveis", a ausência de Michelle Obama "certamente requer alguma explicação".

Mas, segundo ele, os chineses aceitarão de bom grado que a ausência da primeira-dama americana seja justificada com base em obrigações familiares.

As duas primeiras-damas têm aproximadamente a mesma idade: Peng tem 50 anos e Obama, 49. Ambas recentemente entraram para a lista da "Forbes" das cem mulheres mais poderosas do mundo e na lista da "Time" das cem pessoas mais influentes.

As duas são mães e também profissionais. A filha de Peng e Xi estuda em Harvard e, ao que parece, também tem espírito independente: consta que teria resistido aos esforços de seu pai, depois de tornar-se presidente, de fazê-la voltar à China e estudar numa faculdade chinesa.

Na noite de quinta-feira, enquanto Barack Obama estiver voando para a Califórnia, Michelle Obama deve comparecer a um evento de levantamento de fundos para Terry McAuliffe, ex-presidente do Partido Democrata e confidente de Clinton que é candidato ao governo do Estado de Virgínia.

O gabinete dela não informou sobre seus outros planos para o fim de semana. Quanto a Peng, o público americano provavelmente não a verá muito, nem a seu marido.

Os arranjos para o encontro em Sunnylands, a propriedade de 80 hectares construída meio século atrás pelo publisher bilionário Walter H. Annenberg, morto em 2002, visaram garantir isolamento confortável para que os dois líderes possam discutir problemas que os desafiam e dividem, como a proliferação nuclear, a segurança cibernética e o comércio.

Mas nas outras viagens que Peng vem fazendo com Xi --para a Rússia e a África, em março, e, esta semana, para Trinidad e Tobago, Costa Rica e México-- ela vem sendo tudo menos uma primeira-dama chinesa tradicional e discreta.

Sinólogos dizem que, para encontrar uma primeira-dama de destaque semelhante, seria preciso voltar atrás para antes da tomada comunista do país, em 1949, retrocedendo até madame Chiang Kai-shek, que colaborou com seu marido num esforço infrutífero para fazê-lo conservar e depois recuperar o poder, tendo chegado a discursar numa sessão conjunta do Congresso e sido capa da "Time" em três ocasiões.

"Esta é um novo tipo de primeira-dama", comentou Li a respeito de Peng.

Em Port of Spain, a capital de Trinidad e Tobago, a elegante Peng, que veste apenas criações de estilistas chineses, tocou tambor numa banda local de tambores de aço.

O jornal "China Daily" informou que os músicos estavam tocando duas das canções "marcas registradas" da cantora folk quando ela resolveu acompanhar --uma sobre a felicidade dos agricultores com a política econômica chinesa nos anos 1970 e a outra uma canção patriótica sobre uma unidade do exército chinês durante a guerra civil chinesa.

O primeiro-ministro de Trinidad e Tobago teria comentado que bateu papo com Peng em inglês, embora não esteja claro até que ponto ela é fluente no idioma.

Como as primeiras-damas americanas, mas diferentemente das mulheres de líderes chineses passados, Peng vem tendo papel de destaque na promoção de causas sociais --no combate à tuberculose, Aids e tabagismo--, como embaixadora nas Nações Unidas e na Organização Mundial de Saúde.

No final de outubro, quando o presidente francês, François Hollande, foi a Pequim, os franceses se espantaram pelo fato de os dois presidentes e suas esposas terem almoçado juntos, algo que não será repetido em Sunnylands.

A história de Peng inclui um elemento que destoa de seu esforço para mostrar ao mundo um lado mais suave da China: consta que uma foto amplamente circulada na internet, mas rapidamente censurada na China, mostraria Peng quando jovem, de uniforme do exército, cantando para as tropas na praça Tienanmen em 1989, após a repressão sangrenta dos manifestantes no local. A mulher na foto parece estar cantando animadamente sob os olhares de fileiras de soldados.

Fonte: Jornal Folha de São Paulo On Line
Título original da matéria: Primeira-dama da China não encontrará Michelle Obama nos EUA
Foto: Agéncia Reuter

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