por Sylvio Carlos Galvão
É uma árdua tarefa sustentar alguns pontos-de-vista pouco
ortodoxos considerados pela hipocrisia política e pela crítica armada. De
qualquer forma, a isto nos propusemos e vamos levar a cabo a tarefa.
"Oposição”,
em qualquer sentido no qual se use o termo, suscita uma forma de algo
absolutamente contrário ao que é tomado como certo. Mas o que seria o certo?
Eis: oposição soa como errado por convenção e conveniência em quase todos os
cenários da vida pública.
Pior
ainda é a tentativa de conciliar o malfadado termo a uma relação em princípio
familiar, e depois, pela proposta desse trabalho, num princípio institucional. Mas,
na verdade, talvez o mais difícil não seja expor o caso, mas compreendê-lo. Entendemos
por impessoalidade o princípio – inclusive constitucional – de não se
diferenciar as pessoas, basicamente tratá-las como iguais em seus direitos e
deveres como cidadãos.
Pois bem. Prefeito e Primeira-Dama, antes de tudo são
cidadãos. Maridos e esposas, também, antes de tudo são cidadãos. E, o casamento
é um contrato onde não se regulamenta que as opiniões devam ser convergentes
para que o contrato seja cumprido na forma da Lei. A liberdade de opinião e
expressão também encontra respaldo na Carta Magna de um país republicano como
o nosso.
Sem
mais rodeios, já é fácil perceber que a Primeira-Dama deve estar “sempre” ao
lado do Chefe do Executivo em todas as suas ações de administrador público, sem
dúvida, ainda que ele erre feio em algum ato oficial e seja execrado por isso,
ela deve estar ao seu lado e, na medida do possível, ajudá-lo a resolver o que
tenha que ser resolvido. Já, na condição de mulher e marido, em nome do núcleo
familiar, esse apoio deve ser mais intenso, nas agruras e nos louros de
qualquer circunstância, exceto uma: o caso de uma imponderável separação do
casal por motivos pessoais e não políticos. Desculpem-me pelo ponto-de-vista
sórdido, mas casal mandatário que se separa por motivos políticos, vivia um
casamento de conveniência, ainda que alguma paixão no início do relacionamento
possa ter dado impulso à união. Por
tal motivo, e ainda porque a Primeira-Dama atuante vive uma parcela das
obrigações politizadas pelo meio em que trabalha, o debate com o marido, Chefe
do executivo muitas vezes pode ocorrer, e sinceramente, pode ocorrer sem
traumas, através do diálogo.
Por
sua vez, esse diálogo pode se dar em duas frentes: um diálogo concordante que acresce os ideais,
ou um diálogo discordante, onde se pode construir novos ideiais. O que é fatal
tanto para a dupla marido-mulher, quanto para a dupla Chefe do Executivo/Primeira-Dama,
é o cerramento das portas para qualquer diálogo.
O
que chamamos aqui de oposição impessoal ao marido se dá quando há o
pré-definido diálogo discordante. E essa oposição só toma forma de oposição no
sentido de contrariedade um pouco mais séria quando, no caso, a primeira-dama
precisa a recorrer a outros interlocutores de gabinete ou do poder legislativo
para convencer o marido do ideais que ela tem em mente. Nesses casos,
a situação torna-se um pouco tensa sim, isso é previsível, mas faz parte de um
jogo que coloca a primeira-dama dentro das rodas de decisão do Poder de
qualquer forma. E esse é o intuito deste trabalho. Melhor que não fosse assim,
mas se tiver que ser, que seja. Porém, esse caminho só se torna obrigatório a
ela quando seu poder de sedução falha.
Entendemos
que todo diálogo entre marido e mulher é sobrecarregado de tinturas de sedução
de ambas as partes. E por que não se usar algumas pinceladas dessas cores
excitantes para se tornar o diálogo concordante mais fácil de fluir. Marido e mulher,
Chefe do Executivo/Primeira-Dama, fora dos umbrais palacianos são sedutores e
estão sedutíveis a qualquer momento. E é esse momento que torna a palavra
“oposição” apenas uma diferença na performance dos casais, em seus momentos
mais íntimos e a quem ninguém interessa saber os detalhes de um diálogo que
sequer precisa ser falado.
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